segunda-feira, 6 de junho de 2005

A pressa, a pressa

Todas as pessoas muitas vezes agem de forma que não gostariam de ter agido. Dizem algo que não gostariam de ter dito, e depois não tem como voltar atrás. É comum que só se perceba o erro depois de ele ter acontecido. Como é impossível fazer o tempo voltar atrás, essas atuações e palavras equivocadas fazem com que a pessoa se frustre, se arrependa, diga para si mesmo que isso não vai mais acontecer. Porém a vida segue tal como era antes, e logo tudo acontece da mesma forma novamente.

Nos últimos dias comecei a observar algo que há muito me incomodava, mas que até então não tinha feito nada a respeito: a pressa. Especificamente, no trânsito.

Recordo-me de quando eu comecei a dirigir, assim que tirei minha carteira. Muito raramente eu dirigia apressadamente, e sempre com algum motivo. Não consegui entender ainda em que ponto isso começou a mudar... E hoje, o que acontece é: eu entro no carro (principalmente quando estou sozinho) e a pressa vem. Posso estar indo ou voltando, com ou sem tempo, de dia ou de noite, com trânsito ou sem trânsito, com ou sem horário marcado.

E o que acontece? Entre tantos prejuízos que não vou aqui enumerar, a pressa, em última análise, atenta contra minha própria vida. Ninguém está imune a ter problemas no trânsito, mas a pressa potencializa em alto grau os riscos que se corre.

Durante uma semana, me propus a não deixar com que essa pressa se fizesse presente. Isso necessitou de muito esforço. Eu já sabia - o primeiro passo - quando ela ganharia força, e por isso ao entrar no carro recordava-me desse propósito. Tive que estar atento o tempo todo. Por duas vezes ao longo da semana, ela sobrepujou o proposto e conseguiu fazer com que eu fosse apressado. Mas a atenção constante garantiu que esses momentos não passassem de breves segundos, ao fim dos quais a pressa já estava novamente em inatividade.

É lógico que isso foi um ensaio para vencer essa dificuldade. Foi uma semana em que não alimentei a pressa, contra anos em que ela vem se alimentando. Por isso, meu propósito deve permanecer forte. Se não busco verdadeiramente combater essa dificuldade, ou se imagino que o pouco que fiz foi suficiente, logo ela está de volta me causando os mesmos sofrimentos.

Tudo o que faço tem origem em minha mente. É preciso, pois, combater os erros ainda dentro dela. Depois que eles se materializam, não há arrependimento que me impeça de viver as conseqüências deles.

terça-feira, 31 de maio de 2005

Virtudes na Natureza

Dias atrás tive a oportunidade rara de poder apreciar o pôr do sol de um dia e o nascer do sol no dia seguinte. Fico muitos e muitos dias sem reparar na existência, na beleza, nos espetáculos oferecidos pelo Astro Rei diariamente, e também por tantos outros elementos da Natureza, como as nuvens, a Lua, as estrelas, as árvores, as águas... e ponho - injustamente - a culpa na agitação da vida da cidade.

Observar esses espetáculos não deve ser mero procedimento contemplativo. É bem verdade que eles favorecem isso, mas preciso ir além. Contemplar trás para mim uma serenidade, uma tranqüilidade, a sensação de que o tempo corre mais devagar. Mas no momento em que o Sol se põe, ou que se levanta completamente, ou que a chuva passa, que o vento cessa... no momento em que viro as costas e volto à rotina, essa placidez desaparece. Então pergunto a mim mesmo: de que valeu?

A Natureza reflete manifestações de uma inteligência que a comanda; tem virtudes que posso colocar em prática em minha própria vida. O Sol me mostra a constância, cumprindo sem alterações o papel que a ele corresponde. É generoso, pois basta que eu abra os olhos para que me beneficie daquilo que ele oferece sem exigir em troca qualquer esforço. Os rios, em incessante movimento, me ensinam que assim deve ser também minha vida. Se me mantenho inerte, o tempo passa, a vida passa, sem que dela nada eu aproveite. As árvores se renovam sempre: passar o ano sem perder suas folhas e providenciar o nascimento de outras poderia representar para elas a morte. E quanto eu tenho carregado em mim de preconceitos, de enganos, de falta de capacidade, desde há muitos e muitos anos, sem sequer pensar em renovação? Como é bom ter um conhecimento a mais, um acerto a mais, tal qual uma folha verde e viva...

A contemplação da Natureza não deve ser estéril. Se eu aproveito esses momentos para realmente observar tudo o que ela tem para me ensinar, muito posso aprender. Está tudo aí, à vista, sempre pronto para ser observado. Grandes verdades emanam dos processos presentes na Natureza. Cabe a mim e a cada um fazer o melhor uso possível deles.